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ENTREVISTA – Lucia Maria de Sousa

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Em celebração ao Mês do Estudante, entrevistamos Lucia Maria de Sousa, uma aluna brilhante do curso de Direito. Ao longo de sua trajetória acadêmica, Lucia tem demonstrado grande determinação e paixão pela justiça, destacando-se em suas atividades dentro e fora da sala de aula.

Nesta entrevista, Lucia compartilha suas experiências, desafios e o que a motiva a seguir a carreira jurídica. Ela nos conta sobre sua visão do Direito como ferramenta de transformação social e suas aspirações para o futuro na área. Acompanhe essa conversa inspiradora e descubra mais sobre sua jornada no mundo jurídico.

Meu nome é Lucia Maria de Sousa, natural de Pirapora/MG e sou acadêmica de Direito, cursando o 10º período na FAC/FUNAM. Não sei se por complô ou ironia do destino, nasci no dia 11 de agosto de 1957 – dia do estudante e do advogado. Portanto, estou com 67 (sessenta e sete) anos de idade.

Complô, por ter nascido nessa data e ironia, porque nasci em uma família de negros, extremamente pobres e meus pais serem apaixonados com o estudo, apesar de serem apenas alfabetizados. Antes de integrar o quadro de alunos  da Escola Estadual  Santo Antônio, eu já  sabia ler, porque eles me ensinaram, através do livro “Ciranda, Cirandinha”. Desta forma, estudar sempre fez parte de minha vida como algo de suma importância. Eles me ensinaram que, somente através do conhecimento eu poderia ter uma ascensão social e financeira. E, estudando fui entendendo que, somente o conhecimento me traria a possibilidade de contribuir para uma mudança em minha vida e na sociedade. Estudar significa me dar a oportunidade de realizar mudanças, ainda que pequenas. Afinal, de gota a gota é feito o oceano.

Na 5ª série, passei a estudar em escola particular, por não existir escola pública após o 4º ano primário, como se falava àquela época. Fui para o Colégio Santíssimo Sacramento e fazia crochê para vender e comprar material escolar. Meu pai trabalhavacom uniforme remendado e minha mãe não saia da máquina de costura. Fiz a 5ª e 6ª séries, quando então, ganhei uma bolsa de estudos com a qual fui até o curso normal:técnico em magistério. Podia então lecionar de 1ª à 4ª série. Era então, o ano de 1976. E, em 1978, o Colégio SS. Sacramento apresentou o curso “Adicional”, que dava o direito de lecionar para a 5ª e 6ª séries do Ensino Fundamental. Cursei. Já trabalhava em dois turnos e cursei à noite. E sempre sonhando cursar Direito! Começara o “Crédito Educativo”, hoje Fies. Mas, chegar na madrugada? Meu pai não permitiu.

Em 1990, a PUC/MINAS trouxe para Pirapora as Licenciaturas Emergências, quando então cursei LETRAS- Português/Inglês. Onze(11) horas de aula por dia, inclusive aos sábados, uma vez que tínhamos que cumprir todo o conteúdo visto no semestre pelos alunos da PUC/MINAS.O curso era realizado em período de férias. E fui então, lecionar para o ensino médio.

Devo enfatizar que, até o término do Ensino Médio, não tinha vida social. Meu pai, muito severo, só nos deixava ir à igreja. Mas o Colégio Santíssimo Sacramento tinha uma vasta biblioteca que fazia empréstimo de livros. Daí, a cada semana, eu levava para casa um exemplar para ler. Acredito ter lido todos os autores clássicos brasileiros da época, como: Machado de Assis, Eça de Queiros, Jorge Amado, Aluísio de Azevedo, José de Alencar, dentre outros. Também aprofessora MARA HATEM DINIZ, foi uma grande incentivadora, pois como nossa professora de Português na 5ª série, passava como trabalho mensal a leitura e resumo de um livro, para ser entregue e avaliado. Adquiri o hábito da leitura e escrita.Passei a conhecer o mundo através dos livros.

Tenho uma filha e um filho: Thalita e Tiago. Thalita é advogada e professora nesta instituição. Tiago, professor de Língua inglesa no IFNMG. Com a graça de Deus e meu trabalho, eu os eduquei porque, praticamente fui mãe solo. Valeu a pena estudar!

Para não me prolongar, hoje realizo meu sonho! Estou cursando o último período dos meus sonhos: DIREITO! Apaixonei-me pelo Direito Penal, porque passei a ver o acusado (réu) como um cidadão comum que errou, merece e carece de defesa; vez que todos nós somos passíveis de erros. O Doutor Leandro Chamone me ensinou isto. Porém, o momento mais marcante se deu quando, ainda no primeiro período, tive aprovado um artigo de minha autoria, pelo CONPEDI- Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito- apresentado virtualmente em virtude da pandemia, sobre Fake News, convidada a escrever pela mestra Mariana de Sá. Vieram outros a cada período até chegar à Universidade em Buenos Aires e UFRJ- Rio de janeiro, quando fiz a apresentação presencialmente. Dois desses artigos estão publicados nos livros: REPÚBLICA E DEMOCRACIA e DIREITO, CIÊNCIA E POLÍTICA, pela Editora Dialética. Outros momento marcantesforam: um júri simulado, em uma aula de Direito penal ministrada pela professora Bárbara Estrela, quando tive a oportunidade de defender Elize Matsunaga e conseguir sua absolvição por unanimidade e também em uma simulação de audiência, com o Professor Eduardo Vinicius: provar que Bentinho – DOM CASMURRO-( Machado de Assis)  não fora traído por Capitu; caso já pesquisado no Direito sem uma conclusãoliteral. Entendi que possuo raciocínio jurídico! 

Gosto da pesquisa e por isto me mantenho motivada, sempre procurando aprender mais. Entre os afazeres de dona de casa, avó de três netinhas maravilhosas por quem deixo qualquer coisa para atendê-las, vou mantendo o equilíbrio; frequentando, às vezes, uma academia, dormindo após o almoço e reservando sempre, pelo menos duas horas para o estudo. Deveriam ser mais. Mas a idade me cobra o descanso.Minha vida social é restrita à Igreja a qual pertenço- 1ª Igreja Batista em Pirapora, procurar auxiliar pessoas em dificuldades e diversão em família.

Não tenho um modelo de inspiração dentro da sala de aula. Respeito cada professor e cada colega a sua maneira de ser e agir. Fora dela, meu modelo é Jesus Cristo, a quem tento imitar, mesmo sabendo que jamais irei conseguir. Gosto de enxugar lágrimas e provocar sorrisos. Rio e faço piadas das minhas próprias mazelas. Mesmo falando sério, falo em tom de brincadeiras.Mas sou boa ouvinte.

Um conselho? RESPEITO e ESTUDO! Respeite a cada ser humano nas suas peculiaridades! Você não conhece o caminho percorrido por ele. E estude! Aproveite seu tempo como estudante e aprenda de verdade. O depois, será bem mais difícil. Por trás de cada documento que chegar às suas mãos, haverá um ser humano carente do resultado. Então, nunca pare de investigar para aprender sempre mais e poder dar o melhor de si naquilo que fizer. É o que pretendo fazer enquanto Deus me der a capacidade de raciocinar. Nossa sociedade é heterogênea de uma forma lamentável e carece de isonomia.  Somente através da educação temos a chance de contribuirmos para que essa desigualdade seja mitigada.Não espere que outro o faça. Seja você, a gota que ajudará a formar esse oceano.